Adormeci e acordei com a mesma sensação de que tinha sido roubado. Sonhei que o roubo tinha sido institucionalizado e que a única liberdade que sentia após o 25 de Abril era a de que agora podia gritar que estava a ser despojado dos meus haveres e antes dessa "revolução" era preso se o dissesse.
Sonhei que a Polícia ficava de braços cruzados se eu relamasse pelo roubo que me fizeram, mas que seria detido se saísse do supermercado com uma lata de atum sem pagar.
Não contribuí, minimamente, para a situação a que o país chegou, mas obrigam-me a pagar, assaltando-me a carteira, aquilo que outros roubaram à descarada sem que por isso fossem punidos.
Sonhei também que para além de roubado, tinha sido ludibriado e que alguém, na minha cara, se ria a bandeiras despregadas, chamando-me burro por ter arcaboiço para aguentar com a força do despreso com que, institucionalmente, me carregavam o costado.
Tive ainda o pesadelo arrasador de que no meu país faziam de gato sapato o Tribunal Constitucional, e que alguém, descaradamente, me roubava e ainda dizia que assim procedia para meu bem.
Bom, a verdade é que ainda não estou bem acordado, pelo que admito que tudo não passou de um sonho mau, e que, quando o nevoeiro se dissipar, a minha carteira, em vez de uns cêntimos, possa ser reposta dos euros da tão badalada mas fictícia equidade.